quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

DA MORTE AO NASCIMENTO DA NOVA ESPERANÇA

" Eis ali o que veio pra salvar o mundo, mas a ele mesmo não pôde salvar, está só nessa hora impar onde tudo é adeus, tudo é pretérito, tudo tem um ar de esquecido, pregado no madeiro e ungido de seu próprio sangue, banha-se dos pecados do mundo e agora sofre o sofrimento dos homens devido ao próprio julgamento dos homens...
Mesmo aqueles que o seguiam e aclamavam com amor, nessa hora de raios e trovões, se encolhem no seu medo, fazem-se insetos que se acolhem nas frestas durante a tempestade, não pergunte por que, não julgues para que não sejas julgados, tudo é mistério... Sonde em si o silêncio, ouça o mover da presença do Criador sobre os caminhos do mundo, se maravilhe do intenso amor do Pai que doou seu filho unigênito ao sacrifício de dor e amor, mesmo aqui uma rima comum, que ponteará o desenrolar da historia do mundo durante os séculos e milênios da vida dos homens...
Sintam a dor que esmigalha o útero desta mulher que concebeu esta dádiva, que permitiu ao mundo uma chance de se arrepender de todos os seus dias negros, esmiúce na alma dos homens seus sonhos e pesadelos e busque conhecer suas aflições e compreender seus atos nem sempre corretos ou justos, pois tudo é um momento. Momento de dúvida, momento de medo, momento de brutalidade, momento de incompreensão, momento de preconceito, momento de reflexão são todos pré-julgamentos que todos fazemos em horas ditas comuns.
Hoje, contrito desse sofrimento, me apresento a vocês, sou um personagem da história dos homens e vivo a margem da sociedade, sou o excluído, o repelido, o apontado, o que recebe os xingamentos... E sou eu, um rosto qualquer numa multidão de desconhecidos, que vou elucidar para vocês uma parte da vida desse justo que julgado pelos corações sofridos dos homens foi condenado ao madeiro por seus crimes, seu crime de amar o mundo..."

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

UM EPITÁFIO PARA FABIO ERRE

Aqui jaz a flor murcha que muito buscou o viço...
Aqui jaz o sorriso que sempre perdeu de goleada para o pranto...
Aqui jaz o sol que nunca conseguiu romper as pesadas nuvens...
Aqui jaz a infinita tristeza que sempre abundou em detrimento da felicidade...
Aqui jaz aquele que sempre quis ser, mas jamais se sentiu estar...
Aqui jaz quem sempre precisou de aplausos, porém sempre teve medo do publico...
Aqui jaz a aurora que nunca conheceu o amanhecer...
Aqui jaz a noite, com suas sombras e seus mistérios, e que nunca passeou feliz nos braços do dia...
Aqui jaz a busca que sempre encontrou uma parede no seu caminho...
Aqui jaz o poeta que se sentiu analfabeto pra dizer quem era...
Aqui jaz a chuva que sentiu vergonha de caminhar na primavera...
Aqui jaz o hídrico prazer de se conhecer maldito, e colher feliz a flor do mal...
Aqui jaz o vício e a lasciva que tanto almejavam ser simplesmente amor...
Aqui jaz tudo embora sinônimo de nada...
Aqui jaz o perfume de flores de plástico...
Aqui jaz o sonho de ter pesadelos...
Aqui jaz o impar que buscava o seu número par...
Aqui jaz o amor que perdeu a guerra para a doença...
Aqui jaz a paz que lutou em muitas guerras pessoais e nunca venceu...
Aqui jaz a esperança de um dia vivo após uma longa madrugada de chuva...
Aqui jaz o norte que se perdeu no caminho para o sul...
Aqui jaz um em meio à multidão...
Aqui jaz o último que queria ser o primeiro...
Aqui jaz o meio, fração menor de um inteiro...
Aqui jaz a saudade de quem nunca foi...
Aqui jaz uma certeza que ninguém sabe...
Aqui jaz um momento de divindade...
Aqui nasce um poema.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A DOR

A Dor...
Novamente a Dor...
A aguda, nociva, infinita dor
Brotou em hastes enquanto cravastes
Os espinhos, os fios, os rios, carinhos
Caninos tartarizados
A Dor...
Novamente a Dor...
Porém não quero que ela apareça
Quero que em mim
Ela apodreça
E não se rompa, sem fendas
Não cicatrizarão as chagas
Cruas, nuas, puras, minhas e suas
Teu nome de segredo
Esconderei nas ruas, as putas
As lutas, as tetas, as teias, sereias
Servirei na última ceia
Teu seio guardarei
Doarei ao gay, ao frei, ao rei, sei
Que ímpar não se oferece ao par
Quem olvidará, dirá, partirá
Tonto do segredo
A Dor...
Novamente a Dor...
Virá do plutônio
Na ira do urânio, e no teu crânio
A sentença, a lança, a pança, e a dança
Sangra o choro, chora o mangue
A gangue nua, dirá, calada
A Dor...
Novamente a velha nostálgica Dor
Rasgou os vasos, e as orquídeas mataram a camélia
E assim morreu Orfeu, suicido-se louca
Ofélia
A flor nasceu rica, com cloro e tinta
Infinita fez-se doce, amarga, e bonita
Assim, sem conhecer o dia
Vendeu-se à noite, o açoite brilhou alto
A donzela, fez-se fera, deu-se cadela, dormiu
Lisa na hera, e a guerra gerou o fardo
E ao som do fado
A Dor...
Novamente a hídrica Dor...
Por que correr, dormir, mijar, ou rir
Tente correr, vais cair, se chagar, esguair
Eu, rindo, indo ou vindo, sairei partindo
Por fim, no amor partido, caído,
Me vi, e vendo, revendo, olhando, agrupando,
Lendo
A Dor...
Novamente o leque de arpões da Dor...
O beijo, o queijo, o leigo, e a rosa
A poesia que vira prosa
A música que murcha e morre
A Dor...
Novamente a Dor...
Revigora a dor...
Cai a última pétala incolor
E... a Dor...
Novamente a Dor...

BEBÊ AGUIA - by Anne Guedes


E A POESIA ESTÁ DE GREVE POR MELHORES VERSOS

Boa noite senhores,
Após debruçar-me em farta pesquisa
Sobre os indicadores financeiros internacionais,
Avaliar as variações do mercado de commodities
Lhes faço a ignóbil pergunta:
_Quanto vale o verso do poema?
Não esse verso feito pão
Embrulhado nos papéis de uma edição...
Quanto vale o verso embrião
Libertino e libertário
Verso dos bêbados e clowns de ocasião,
O verso do primeiro poeta que comparou a mulher a uma flor
pois o segundo que a comparou é um perfeito idiota,
Quanto vale o verso capaz de consertar o estrago
Na veia aorta
Pronunciado do outro lado de uma porta,
Afinal senhores
A poesia não esta morta...

A verdade é que a poesia cansou-se
Da mediocridade dos poeteiros de ocasião
Que rimam são e pão ou amor e dor,
Ora por favor,
Não quero emoções alexandrinas,
Mas versos sobre sacanagens com as primas
Que valor possui essa emoção?
Chega da poesia panfletária
Que nunca mudara os caminhos da nação,
Quero antes o verso libertário que é redescobrimento da concretização
Mentir ou não mentir
De quanto é a remuneração?

Para saber quanto vale o verso
É necessário redescobrir seu próprio universo
Sondar-se, caminhar para dentro de si
E se regozijar com o delicado odor do perfume de seus peidos,
Não tenha vergonha, seja um novo Genet
Entre lençóis e fronhas de seda
Se inspira, isso, agora com força e fé...solte um pum.

É isso que vale o verso
Este instante íntimo de prazer
Em que se é deus e ao mesmo tempo você.
Verso é a matéria prima do poema,
Há de se calcular as misturas
Avaliar a textura e a aplicação
Depois
Mãos-a-obra
Temos que erguer uma edificação
Alojar novos seguidores desse roseiral de cores
Afinal
O que vale mais que o verso?

Ora senhores, a figura mítica do poeta
Empresário da poesia
Cuja alegria esta em ascensão...

Vou levantar Bandeira, e convocar a saparia em críticas céticas:
Abaixo ao lirismo comedido!
Estamos fartos do lirismo bem comportado!
Na eterna busca dos valores do verso,
Só há lugar para o lirismo que é libertação.

E a luta continua, companheiros.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

POEMINHA DO CONTRA

Esses que ai estão
Atravancando o meu caminho
Eles passarão
Eu, passarinho.

MARIO QUINTANA

DO NOVÍSSIMO TESTAMENTO

e levaram-no maniatado

e despindo-o o cobriram com uma capa escarlata

e tecendo uma coroa d'espinhos puseram-lha na
cabeça e em suas mãos direita uma cana e
ajoelhando diante dele o escarneciam

e cuspindo nele tiraram-lhe a cana e batiam-lhe
com ela na cabeça

e depois de o haverem escarnecido tiraram-lhe
a capa vestiram-lhe os seus vestidos e o levaram
a crucificar

o secretário de segurança admitiu os excessos
dos policiais e afirmou que já mandara abrir
inquérito para punir os responsáveis


JOSÉ PAULO PAES