segunda-feira, 8 de setembro de 2008

UM EPITÁFIO PARA FABIO ERRE

Aqui jaz a flor murcha que muito buscou o viço...
Aqui jaz o sorriso que sempre perdeu de goleada para o pranto...
Aqui jaz o sol que nunca conseguiu romper as pesadas nuvens...
Aqui jaz a infinita tristeza que sempre abundou em detrimento da felicidade...
Aqui jaz aquele que sempre quis ser, mas jamais se sentiu estar...
Aqui jaz quem sempre precisou de aplausos, porém sempre teve medo do publico...
Aqui jaz a aurora que nunca conheceu o amanhecer...
Aqui jaz a noite, com suas sombras e seus mistérios, e que nunca passeou feliz nos braços do dia...
Aqui jaz a busca que sempre encontrou uma parede no seu caminho...
Aqui jaz o poeta que se sentiu analfabeto pra dizer quem era...
Aqui jaz a chuva que sentiu vergonha de caminhar na primavera...
Aqui jaz o hídrico prazer de se conhecer maldito, e colher feliz a flor do mal...
Aqui jaz o vício e a lasciva que tanto almejavam ser simplesmente amor...
Aqui jaz tudo embora sinônimo de nada...
Aqui jaz o perfume de flores de plástico...
Aqui jaz o sonho de ter pesadelos...
Aqui jaz o impar que buscava o seu número par...
Aqui jaz o amor que perdeu a guerra para a doença...
Aqui jaz a paz que lutou em muitas guerras pessoais e nunca venceu...
Aqui jaz a esperança de um dia vivo após uma longa madrugada de chuva...
Aqui jaz o norte que se perdeu no caminho para o sul...
Aqui jaz um em meio à multidão...
Aqui jaz o último que queria ser o primeiro...
Aqui jaz o meio, fração menor de um inteiro...
Aqui jaz a saudade de quem nunca foi...
Aqui jaz uma certeza que ninguém sabe...
Aqui jaz um momento de divindade...
Aqui nasce um poema.