segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O CALDEIRÃO DA ALMA

Eu, que fiz de meus sentimentos
Meretriz
Digo, entre cores certas, o correto
Tom da cicatriz pulsante
Pois dela a qualquer instante
Virá a sombra azul do mal
Nesta hora despida de sinal
Não haverá criatura que não seja
Branca de cal
Frente ao sorriso nítido e capital
Do sopro angelical no anjo negro
Pois após o fim deste segredo
Meu corpo já não é água e sal
São torrentes em enxofre
Onde se cozi o cordão umbilical
Agora conhecerão o alarido
Pelo qual o amor é percorrido
Devido a essa dor sofrida
Aborto de mim meu melhor sorriso
Nenhuma carícia pode chegar à alma
Então, crucificado em tábua
Confesso esta minha mágoa.





                                               

CANTO DE STUTGARD

Maldito queixo que em mim é o desleixo
Da própria alma
Vem, sangra este espírito que não se acalma
E tende infinita piedade dos homens que amei
Pois somente hoje sei que não fui só eu
Que chorei;
Desgraçado é todo aquele
Que gemeu por este maldito corpo
Derramando em si o elixir do copo
Chagando o branco véu da pele
Reflete, entre cores primárias
As binárias seqüelas do passado
Assim, o ar pasmado se cura
Numa luta tão sem fim
Que o negro do dia se faz
Rubro carmim
E a essência de mim evapora
Breve, chegará à fatídica hora
De se consumar a tragédia da vida
Sendo então viúva, eu
Despirei de mim mesmo
O temor das saúvas,
Entre palmas e luxúrias
Descobrirei que meu amor
Jamais foi o forte rio a quebrar o calor
Foi o simples adeus sozinho
Enquanto no cio me fazia calabouço
Suavas em escadas por moças
Lavei tuas meias, tuas calças,
Tuas bocas...
Partias sempre feliz
Então por que gerar a cicatriz
Da imortal ferida, negra
Em tons doloridos
Concisos em espasmo e labor
Será que conheces o valor da dor
Fora dos vórtices de um parto
Onde se grita entre sangue
No melado dos mangues?
...Eu, donzela, faço de mim fera
E me estupro com a hera
Para da guerra ser infeliz.




                                  

CHAGAS

Me beije.
Vamos. Venha até aqui e me beije.
Não!
Não beije minha boca,
Beija-la é simples e normal.
Beije com estes lábios sepulcrais
As chagas do meu corpo
Que por seu corpo se faz,
Sinta o pulsar quando se cicatrizam
Ou quando emotivas choram sangrando.
Esquecidas se inflamam
Deixam escorrer o gosto de sua saliva
Cantam serenamente com a casta
Suavidade triste das divas.
Bêbedas de mercúrio se embriagam, se jogam
Vestem-se de gases e esparadrapos
Esperam sozinhas no quarto
A porta que não abre, a voz que não chega
Pobre alma cheia de chagas
Cujos lábios querem ser beijados
Estupra-se com o dedo
Para poder ver-se sangrar,
Coagulando os sorrisos
Enquanto espera seus lábios a tocar.
Estes lábios com nojo da chaga beijar
Entope-se de ácidos
E desmaiam...
Enquanto a chaga se põe a chorar.



O PRIMEIRO ROSÁRIO

Vamos olhar com um olhar atroz,
Que faz sangrar o ato
Trágico que consome todos nós,
Pois hoje o meu imenso amor morreu...
Morreu sadio, mas vadio, se esqueceu
Do nome que sempre ousei falar
Negava-se à tragédia
Mas sempre me permitiu eu me matar.
Despudorada, sempre me matei no teu corpo
Conforme ardo, aqueço o chá
Da ira, da guerra, da fera
Porque eu, menina, nasci donzela
Para mulher ser a cadela
A latir o chamado nome do amado.
Amargo dia este em que meu ser
É sobremesa roída e largada a mesa
Pois todos já se enjoaram de comer
Agora a minha alma
Não sabe o que fazer
Sê correr, se desespera;
Sê espera, quer morrer;
Sê morrer, perde a luta
Por isso, veste o rubro da noite
Arma-se da renda e do açoite
Enquanto no coito se metrifica
Para se libertar do que a escraviza
Tornando-se assim o verso livre
Despido do medo e repleto de ojeriza
Antes o que me edificava
É o que hoje me martiriza
Porque minha melhor florada
Resume-se no imortal amontoado negro
Das pétalas ríspidas da nova ferida.

Quero ser crucificado no mangue
Não para que se diga: _ Tal qual Cristo.
Mas para que se lembrem que eu amei
E morri pelo mal para o bem disto
Talvez dito isto, o que resta
Além do papel eternizado,
Das lágrimas descritas,
Das noites claras cheias de ciscos.
Tudo agora respira em vão
Inclusive esse aborto do meu coração,
Vou reintegrá-lo em mim
No revés voraz do meu parto
Pois trancado na senzala de meu quarto
Quem terá pena de mim?
Então, sozinho, frio, e morto
Vou encontrar conforto no fim
E meus amigos: desconhecidos
Virão jogar pétalas no meu túmulo de poeta
Pois o profeta nasce do verso
Eu rezo pelo instante fatal
Em que meu verso, será meu rosário
O rosário negro do poeta.
Por esta ser a meta,
Vês esta janela? Fecha
Pois tenho aqui um arco e uma flecha
Atire, e feche esta maldita brecha.



                                                          

SONETO


Feliz é o dia em que morremos
Pois toda a noite é finita
Enquanto com o rubro tingimos
O branco da rosa bonita

Nos tornamos eremitas do mar,
Sangrando o verso ardente
Do sopro ruivo do ar,
Período negro que de repente

Pari o sofrimento de olvidar
As mãos trêmulas de adeuses,
Pecado maior de se lançar.

Então, só, triste, e morto
Remo o navio solitário dos deuses
Para atracar no velho antigo porto.





SOMBRAS ÍNTIMAS E SEPULCRAIS

Hoje, eu posso lhe dizer: adeus,
Olhar para trás, e não chorar
Pois minhas lágrimas secaram
Logo após transbordar o segredo
Aquilo que em mim não se dizia
Despiu-se inteiro do velho medo
Contornando de lilás as garras
Das sombras íntimas e sepulcrais.
Vai, ouça o que não digo
Meu desejo é o meu maior castigo
Eu, flor do objeto que é sofrido
Coloro de tons sóbrios o esquecido
Pois o que há de maior que o nada
Somente a alma morta
A virgem violentada que acalenta
Em seus braços
A desgraça em seu ventre gerado
Mirra e incenso de desprezo e agonia
Por ventura não é a manhã
A voz que a noite tortura
Como vencer então
A extrema hora de desventura?
Tende compaixão do meu sorriso
Ele é tão verídico como a falsa flor
Todo de plástico
É só sarcasmo
Ranço, ira, rancor
Quero ver quem se despirá do pudor
E feliz, assassinará o amor
Porque eu, não sou nada
Sirvo-me frio em baixelas frias
Temperado por oliva, sal, e vinagre.




LÁGRIMAS

Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Nos açoitam os olhos com violência
Pois refletem as cores que no peito
Brotaram sem pudor ou clemência
Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Frias, vãs, mulçumanas, cristãs
Todas filhas de Maria
Todas feridas, despidas, sentidas
Ásperas, porém leves, rolar
Sangrar assim esta hora total
Cujo soluço assume ar palatal
Desgraça par que é ao final
Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Despidas de azul, sangue, ou sal
Mármore carrára do bem
Sopro frio do mal
Chega sem pedir licença
A transbordar a taça de fel cruel
A cólera de quem tolo fiel
Sangrou-se como se fosse
Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Desterro de homens... Preces femininas...
Agonia de olhos inocentes
Coerente erro de se estar aqui
Correr é o suplício do vento
Tenaz preceito do sofrimento
Ode, oráculo, prece de amor
Instante ímpar cujo é persona da dor
Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Coloridas apesar do tom incolor
Pois o negro das almas
Não tinge o seu gesto nítido de labor
Sufocando através da rima
A fera manca do ódio superior
Mas o que fazer se ao fim
Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Amigas profundas a vedar narinas
A espasmar nas esquinas
Se ao menos ainda fossemos meninas...
Correr não adianta, de que vale adiar
É prolongar somente à hora
Em que a vida se põe a derramar
Caídas, quem, ninguém pode juntar
Pois são
Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Frutos de um rico pomar
Cujo doce está no braço acalentado
Que redige o instante de riso com furor
Mas perdido o tempo
É novamente momento de se ver
Lágrimas,
Sempre lágrimas...
Flores ungidas de néctar e almíscar
Tom correto que faz certo
O áspero ar do que está aqui
Para solidificar tudo o que não há
Cimento, aveia, concreto
Perverso, verso, reverso do que há
Pois enquanto aqui estamos
Elas estão a rolar
Conforme rolam, transbordam
E são
Lágrimas,
Eternamente lágrimas.




                       

A ROSA E O ESPINHO

Eu jamais amei uma rosa
Como amo teus espinhos
Que a mim chagam
No simples gesto de cometer um carinho,
Sinto enorme prazer quando nas noites frias
Um sofrimento atroz
Desata suas cordas, sua voz
E você é simplesmente meu.
Sua dor é o momento sublime
Em que o meu acalanto
Todos os seus medos suprime
Pois o espasmo fiel deste parto
Sangra o meu beijo sozinho
Enquanto me procuro, e não me acho
Corro, caio, fecundo o velho ato
Algoz, o anjo veloz corre ao rio
Colhi suas lágrimas frias
Enquanto tu rias, sabias
Que eu sofria o meu sorriso?
Eu nunca soube sorrir,
Eu simplesmente abria a boca
E mostrava os dentes.
Tende infinita piedade de mim
Porque somente eu sei o quanto amei
Ser sangrado pelos teus espinhos
E mais, curar minhas chagas
Sozinho.
Eu jamais amei uma rosa
Por não ter os teus espinhos
Que sangram com carinho.





                                                           

A DOR

A Dor...
Novamente a Dor...
A aguda, nociva, infinita dor
Brotou em hastes enquanto cravastes
Os espinhos, os fios, os rios, carinhos
Caninos tartarizados
A Dor...
Novamente a Dor...
Porém não quero que ela apareça
Quero que em mim
Ela apodreça
E não se rompa, sem fendas
Não cicatrizarão as chagas
Cruas, nuas, puras, minhas e suas
Teu nome de segredo
Esconderei nas ruas, as putas
As lutas, as tetas, as teias, sereias
Servirei na última ceia
Teu seio guardarei
Doarei ao gay, ao frei, ao rei, sei
Que ímpar não se oferece ao par
Quem olvidará, dirá, partirá
Tonto do segredo
A Dor...
Novamente a Dor...
Virá do plutônio
Na ira do urânio, e no teu crânio
A sentença, a lança, a pança, e a dança
Sangra o choro, chora o mangue
A gangue nua, dirá, calada
A Dor...
Novamente a velha nostálgica Dor
Rasgou os vasos, e as orquídeas mataram a camélia
E assim morreu Orfeu, suicido-se louca
Ofélia
A flor nasceu rica, com cloro e tinta
Infinita fez-se doce, amarga, e bonita
Assim, sem conhecer o dia
Vendeu-se à noite, o açoite brilhou alto
A donzela, fez-se fera, deu-se cadela, dormiu
Lisa na hera, e a guerra gerou o fardo
E ao som do fado
A Dor...
Novamente a hídrica Dor...
Por que correr, dormir, mijar, ou rir
Tente correr, vais cair, se chagar, esguair
Eu, rindo, indo ou vindo, sairei partindo
Por fim, no amor partido, caído,
Me vi, e vendo, revendo, olhando, agrupando,
Lendo
A Dor...
Novamente o leque de arpões da Dor...
O beijo, o queijo, o leigo, e a rosa
A poesia que vira prosa
A música que murcha e morre
A Dor...
Novamente a Dor...
Revigora a dor...
Cai a última pétala incolor
E... a Dor...
Novamente a Dor...





A FLOR DO MAL NASCE SOBRE OS SOIS GÊMEOS

Eu sou simplesmente a eterna Flor do Mal
Esvai-se de mim
Todos os males da era cristã,
Meu sangue carmim é sucursal
Do pecado maior do homem dito Caim
Palatal, meu beijo cruel e mortal
Assassinará a morte, o consorte, e o forte
Pois acima de tudo está a dor
Tinta severa que com o apoio do pincel
Tinge de sofrimentos os melhores momentos
De nada ira adiantar saber
Ou mesmo se banhar ricamente
Dos ungüentos sangrentos de Alkbar
Como se salvar do que virá total,
Cruel, e avassalador para matar
As flores, essas cores tão felizes, tão alegres
Em tons tão campestres, e colher os morangos
Os morangos silvestres tolhidos de fel
Putreficarão as carnes, as Carmens,
Pasmem
Meu sangue ulcera almas
Que vomitam seus dias felizes
Nesta mesa de tábuas polidas
Onde um jarro com rosas podadas
Enfeita a miséria de suas vidas
Pobres infelizes, julgam-se felizes
Desconhecem o amargo sabor do meu beijo
Por isso querem ser beijados
Malditos, agora se proverão do âmago de meu fel
Meu veneno rico de tudo aquilo
Que o homem tem vergonha de confessar.
Não adianta correr meu mal irá lhe alcançar,
Alçar o grande vôo
Cobrir o mundo da sombra sepulcral
Entre farpas vestir-se semideus, e nu
Jorrar nos homens o maior prazer seu
Pois eu sou a eterna Flor do Mal
Antes de mim só saudades e sorrisos
Agora vórtices do parto entre espasmos e labor
Correto, virá assim o som torpe do trator
A desvendar segredos tão antigos
Que os meninos após envelhecerem, rejuvenescem
Os frutos verdes apodrecem e lhe sirvo
O mais amargo dos meus sulcos
Pois expulso do paraíso, segregado pelos turcos
Te farei sofrer todas as minhas decepções
Vou te chagar com meus melhores arpões
Para encerrar nos homens, primatas,
Seu destino já decidido e lavrado em atas
Assim encerrar mudo o canto
Que desabrochará o infinito concreto
Enquanto rompem-se as cordas do violino
No meio do principal concerto
Enxerto o meu próprio aborto,
E você nasce no suplício desse parto
Mas eu, Flor do Mal, não me mato
Adubo os meus espinhos para crescerem
Até serem falos imperiais
Porque isso tudo se faz crucial
Pelo simples fato capital
De que lhe dizer é primordial
Dos gêmeos sois, só brilha um, por quê
Eu sei : _ eu amo você !




                                              





                                                                    

domingo, 24 de agosto de 2014

QUINTANA

Uma formiguinha atravessa, em diagonal,
A página ainda em branco do papel
Seu passo lento, atemporal,
Demonstra a sua total paciência
Misturando certo o químico da ciência
À marcação severa
Da dramaturgia, num elo cênico,
Esplendido,

A abelha fabrica o meu.

GOTAS DE DOR

Vagam calmas as minhas vozes
Enquanto meus olhos
Rastreiam voraz o seu nome
Cândida exacerbação
Do meu peito que se consome.
Ergue-se aquela melodia
Extasiantemente conturbada
Que me despe no raiar do dia
De tuas pálpebras abertas
A prantearem
Lágrimas, sempre lágrimas
Filhas de um ciúme
Figuras retas de um crime
Que se confirma no teu beijo
Já sem doce
Já sem vida
Já sem cor
O beijo seco da floresta negra
Quando dilacerado no peito
Jaz ali o velho amor
Rosa cálida de pétalas abertas
Murchando sem calor
Ferindo mais sua ausência
Que os espinhos de sua flor.
Assim trágica se rasga
A veste do cupido
Que do mármore esculpido
Se vê, singela gota de dor.




                                               

GULA

Maldito, és tu
Que vigora em minhas entranhas.
E és minha alma,
E,

És minha fome.

O AMOR

Eu...
Eu sou um coração que é maldito
Porque carrega em si um tumor aflito
De uma explosão vermelha
Rosa céu de Hiroxima,
Eu sou a desgraçada
Prostituição negra das meninas,
Sirvo-me em qualquer taça de fel,
Sou o rio seco do que é cruel
De mim saboreia-se um gosto amargo
Porque o âmago de mim sulfurou
O pranto seco cantou o medo, o fato,
O falo, o fauno, o fado.
Eu...
Eu sou o último desespero da camélia
Que apodrece num vaso adubado, coitado,
Tudo é somente fezes...
Pobre hidra, hera, sua vida é desgraçada
Porque eu, amor, sou renegado por ti
Que é imbecil, amado,
O famigerado devorador do músculo roxo
Que pinta a miséria num tom fosco
E se esquece, e se amedronta, e foge
Foge porque é mais fácil correr, do que cair
Antes o cansaço, que a chaga, o esguair
O minguar até ser nada, e nada
Ainda assim existir.
Ser como toda prostituta, infecunda,
Porque em seus oblíquos partos
Parem feridas do mundo
E se engana quem acha que esse sofrer termina
Ele se aprimora, desenvolve, alucina
E agora, a alma perdida se evola
Rola nos ralos de mim, é bola
Rebola ao som da marcha fúnebre
Morre, não se decompõe, porque flui
Flui ao som forte do tamborete e do clarim
O lábio ocre carmim
Sorri um sorriso desdentado
E você, a dentadura, se faz rachado
Para poder fora, ser jogado
Se esquecendo que um peito se faz sangrado
Porque não queres
Preferes a fuga. Foge, antes correr que cair
Eu ao menos não menti
Estou morto, mas estou aqui
Pronto para se servir, frio, porque quem corre
É o seco rio que desemboca no mar
Amar é um verbo transitivo...
O riso, a esbórnia, a glória
Tudo são faces...
Sou ser sofrido, caído
Porque renegas a regar
As árvores secas, de folhas e frutos secos, de meu pomar?
                                              






II POEMA

Hoje, o amor fez miséria em mim!
Absorvendo o último impulso
De voltar
Agora reconheço que cai
Porém ainda conservo forças
Nos joelhos arqueados
Minha voz alcança céus
Jamais imaginados.

Uma chuva de vozes
Caio sobre a face
O músculo roxo rasga
O fluxo do corpo em paixão
Tudo escorre pelos dedos
Tudo toca o chão
Explode o imenso segredo:
O suco da vida servi-se ambiente
Enquanto que a gente
Dorme.





I POEMA

Hoje quando acordei
Meus pés saltaram do chão
E todos os meus sentidos se enganaram,
Olhei para o mundo
Enxerguei seus olhos vidrados
E sangrei
Sangrei o fado do fardo dos homens
Fiz-me simples
No composto de todos nós
Metrifiquei
Meticulosamente todos os sons
Porém, eles se absorveram mutuamente
E eu reconheci o meu fracasso.

Tangia o pôr do sol...
Eu não vi o seu dia
Sofri
Sofri toda a flor da concepção
Da raiz a rosa de meu verso,
Torturado, até se confessar prosa
Enquanto que saudade que sou
Mutava-me a rio, subia
Ladeira abaixo
Nos braços dos sons das senzalas.

Quando por fim o céu se abriu violeta
E a grande flor do mundo
Exalou facas e espinhos
Correram os rubros da face
Eu compreendi
Compreendi que cada um
Destrói a si mesmo
Quando dirige a flecha ao alvo alheio
Eu, que era senhor da guerra
Disparo meu grito –
Bala perdida no mundo –
Num coração solitário.