domingo, 24 de agosto de 2014

O ETERNO EM MIM

Sou a primeira primavera
Às vezes sou também outono, inverno, verão
Gosto de tombar-me ao chão
Ser folha morta a registrar a vida que virá
Quando de minhas entranhas a seiva da vida
Põe-se a gerar...

Mas os dias tornam-se cruéis
E as vozes do tempo chamam os nossos nomes
E não podemos correr
Correm os rios de medo e todos os segredos são sós e meus
Afogado em meu ser esqueci que se sorri
E menti
E sofri
E esqueci o nome e os apelidos
A nuvem que escondia o sol cegou a lua
As estrelas foram dormir
E as águas brotaram das chuvas e o frio gerou o homem
Que sou...

Finalmente os corpos se aqueceram e perceberam o eterno prazer
Não foi mais possível morrer
O amarelo da hora não deixou o negro surgir
E sem dormir, acordei todos os meus sonhos
E gerei de minhas costelas sua realidade
E vivemos o nosso cotidiano, entre o sol e a chuva,
Assim nascemos, e por fim, morremos de medo
De medo do medo e de medo dos medos de todos os medos que sentimos
Até que um dia um estúpido acende a luz do leito
Os sonhos acordam
E despertamos repletos de mau hálito, desgrenhados cabelos
Bocejos cansados
E saudades de nossos pesadelos.

Ninguém jamais conheceu o útero de minha alma
Que se refugiou no mais deserto de mim
Pois com medo do câncer de pele
Criou escamas e foi nadar em mim
Respirando por meus poros, se alimentando dos restos que sou
Mas inesperado surgiu violeta o amor
Violentando o sofrimento calado que gritou de prazer
Ao ver sua carne suando
Ao perceber seu gemer, seu gozo, sua vida a perecer
Resvalhecendo-se do amor
Que criou a vida, a separação, a dor
A eterna dor de quem amou, sorriu, sofreu,
E se fez extrema desventura
Pois se ruim na solidão, pior na tortura
Antes não ser sol que nunca poder ser eclipse
Ser um dia sempre igual
É tornar-se um triste final, numa página ainda em branco
Sem letras, pontos ou sinais
Apenas vento e um ruidoso som de ais.









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