Sou
a primeira primavera
Às
vezes sou também outono, inverno, verão
Gosto
de tombar-me ao chão
Ser
folha morta a registrar a vida que virá
Quando
de minhas entranhas a seiva da vida
Põe-se
a gerar...
Mas
os dias tornam-se cruéis
E
as vozes do tempo chamam os nossos nomes
E
não podemos correr
Correm
os rios de medo e todos os segredos são sós e meus
Afogado
em meu ser esqueci que se sorri
E
menti
E
sofri
E
esqueci o nome e os apelidos
A
nuvem que escondia o sol cegou a lua
As
estrelas foram dormir
E
as águas brotaram das chuvas e o frio gerou o homem
Que
sou...
Finalmente
os corpos se aqueceram e perceberam o eterno prazer
Não
foi mais possível morrer
O
amarelo da hora não deixou o negro surgir
E
sem dormir, acordei todos os meus sonhos
E
gerei de minhas costelas sua realidade
E
vivemos o nosso cotidiano, entre o sol e a chuva,
Assim
nascemos, e por fim, morremos de medo
De
medo do medo e de medo dos medos de todos os medos que sentimos
Até
que um dia um estúpido acende a luz do leito
Os
sonhos acordam
E
despertamos repletos de mau hálito, desgrenhados cabelos
Bocejos
cansados
E
saudades de nossos pesadelos.
Ninguém
jamais conheceu o útero de minha alma
Que
se refugiou no mais deserto de mim
Pois
com medo do câncer de pele
Criou
escamas e foi nadar em mim
Respirando
por meus poros, se alimentando dos restos que sou
Mas
inesperado surgiu violeta o amor
Violentando
o sofrimento calado que gritou de prazer
Ao
ver sua carne suando
Ao
perceber seu gemer, seu gozo, sua vida a perecer
Resvalhecendo-se
do amor
Que
criou a vida, a separação, a dor
A
eterna dor de quem amou, sorriu, sofreu,
E
se fez extrema desventura
Pois
se ruim na solidão, pior na tortura
Antes
não ser sol que nunca poder ser eclipse
Ser
um dia sempre igual
É
tornar-se um triste final, numa página ainda em branco
Sem
letras, pontos ou sinais
Apenas
vento e um ruidoso som de ais.
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