domingo, 24 de agosto de 2014

O AMOR

Eu...
Eu sou um coração que é maldito
Porque carrega em si um tumor aflito
De uma explosão vermelha
Rosa céu de Hiroxima,
Eu sou a desgraçada
Prostituição negra das meninas,
Sirvo-me em qualquer taça de fel,
Sou o rio seco do que é cruel
De mim saboreia-se um gosto amargo
Porque o âmago de mim sulfurou
O pranto seco cantou o medo, o fato,
O falo, o fauno, o fado.
Eu...
Eu sou o último desespero da camélia
Que apodrece num vaso adubado, coitado,
Tudo é somente fezes...
Pobre hidra, hera, sua vida é desgraçada
Porque eu, amor, sou renegado por ti
Que é imbecil, amado,
O famigerado devorador do músculo roxo
Que pinta a miséria num tom fosco
E se esquece, e se amedronta, e foge
Foge porque é mais fácil correr, do que cair
Antes o cansaço, que a chaga, o esguair
O minguar até ser nada, e nada
Ainda assim existir.
Ser como toda prostituta, infecunda,
Porque em seus oblíquos partos
Parem feridas do mundo
E se engana quem acha que esse sofrer termina
Ele se aprimora, desenvolve, alucina
E agora, a alma perdida se evola
Rola nos ralos de mim, é bola
Rebola ao som da marcha fúnebre
Morre, não se decompõe, porque flui
Flui ao som forte do tamborete e do clarim
O lábio ocre carmim
Sorri um sorriso desdentado
E você, a dentadura, se faz rachado
Para poder fora, ser jogado
Se esquecendo que um peito se faz sangrado
Porque não queres
Preferes a fuga. Foge, antes correr que cair
Eu ao menos não menti
Estou morto, mas estou aqui
Pronto para se servir, frio, porque quem corre
É o seco rio que desemboca no mar
Amar é um verbo transitivo...
O riso, a esbórnia, a glória
Tudo são faces...
Sou ser sofrido, caído
Porque renegas a regar
As árvores secas, de folhas e frutos secos, de meu pomar?
                                              






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