segunda-feira, 25 de agosto de 2014

O PRIMEIRO ROSÁRIO

Vamos olhar com um olhar atroz,
Que faz sangrar o ato
Trágico que consome todos nós,
Pois hoje o meu imenso amor morreu...
Morreu sadio, mas vadio, se esqueceu
Do nome que sempre ousei falar
Negava-se à tragédia
Mas sempre me permitiu eu me matar.
Despudorada, sempre me matei no teu corpo
Conforme ardo, aqueço o chá
Da ira, da guerra, da fera
Porque eu, menina, nasci donzela
Para mulher ser a cadela
A latir o chamado nome do amado.
Amargo dia este em que meu ser
É sobremesa roída e largada a mesa
Pois todos já se enjoaram de comer
Agora a minha alma
Não sabe o que fazer
Sê correr, se desespera;
Sê espera, quer morrer;
Sê morrer, perde a luta
Por isso, veste o rubro da noite
Arma-se da renda e do açoite
Enquanto no coito se metrifica
Para se libertar do que a escraviza
Tornando-se assim o verso livre
Despido do medo e repleto de ojeriza
Antes o que me edificava
É o que hoje me martiriza
Porque minha melhor florada
Resume-se no imortal amontoado negro
Das pétalas ríspidas da nova ferida.

Quero ser crucificado no mangue
Não para que se diga: _ Tal qual Cristo.
Mas para que se lembrem que eu amei
E morri pelo mal para o bem disto
Talvez dito isto, o que resta
Além do papel eternizado,
Das lágrimas descritas,
Das noites claras cheias de ciscos.
Tudo agora respira em vão
Inclusive esse aborto do meu coração,
Vou reintegrá-lo em mim
No revés voraz do meu parto
Pois trancado na senzala de meu quarto
Quem terá pena de mim?
Então, sozinho, frio, e morto
Vou encontrar conforto no fim
E meus amigos: desconhecidos
Virão jogar pétalas no meu túmulo de poeta
Pois o profeta nasce do verso
Eu rezo pelo instante fatal
Em que meu verso, será meu rosário
O rosário negro do poeta.
Por esta ser a meta,
Vês esta janela? Fecha
Pois tenho aqui um arco e uma flecha
Atire, e feche esta maldita brecha.



                                                          

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