Você
jamais saberá o gosto
Do
meu beijar
Pois
antes do beijo, eu choro
E
o beijar tem gosto de lágrimas
Que
ásperas
Não
servem para se afagar,
Sem
afago meu beijo fica mudo,
Cego,
atrofiado, e surdo
Órfão
dos carinhos rudes do mundo.
Insensatez
dos atos, atores
Que
representam à alegria
Quando
em penumbra se embriagam
Da
tristeza negra e moribunda;
Nasce
do segredo exposto
O
androceu trágico da rosa
Que
ao som fino da bossa
É
o parto feliz do morto
Poeira
no vento sulcado do rosto.
Do
gosto farto do enfarto
Renasci
do meu próprio mal
Enquanto
renasço me mato
Cansei
de um dia sempre igual
Onde
se esquecem do beijo
E
o leigo formou-se bacharel
Todo
de negro, canudo de papel
Se
esqueceu do analfabetismo
Do
seu sentimento de egocentrismo
Misto
de candura, loucura
Tomou-me
pela mão, e aplicou
A
mais injusta das severas surras
Enquanto
me beijava e me tomava
Ralhava-me
suas nuas juras
Com
medo, caminhei em ruas
Que
de tão escuras, embora minhas,
Jurava
serem suas...
O
gosto do meu beijo, que é lágrimas
Regara
o meu pomar de rosas
Enquanto
colhe-las terei cuidado
Para
que a poesia
Não
se transforme em mera prosa
E
assim, o androceu trágico da rosa
Sepultou
nosso amor. Na roça.
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