domingo, 18 de março de 2018

MARCAS


Caminhos crus de uma nudez parada.

Seguir como, se desconheço
Qual é a real jornada?

Errante, o caminho inconstante
Eu faço do moleque
A ferida que cresce e mata.
Olhai, com o teu olhar mais baixo
Vês?
Que além dos vermes há
A semente germinante
E dela a qualquer instante virá
A fúria de urânios...
Das senzalas brotarão botões de desespero
E conforme girar este novelo
Eu hei de um dia vê-lo
Julgado, depois atormentado,
Decapitado
E longe, nos longes
Fundo em meio a fundos
Um par de olhos com lágrimas
Em uníssono som
Alto, em brado, gargalhará
Todos em desequilíbrio se virarão
E verão
A menina toda de negro os fitará
Mostrando as marcas de guerra
Nada falara
Os velhos, suas medalhas, uniformes, estopins, condecorações
Com vergonha, o sangue a pulsar nas cicatrizes
Sairão
Reconhecendo naquelas marcas o toque de suas mãos
Assistirão em seus filhos, carrascos de si mesmos, desejando
O revés de seus próprios partos
Enquanto a menina, grande, maior que o mundo
De alma límpida, fronte lavada
Sem receio algum sairá com a mão ao seio
Em meio ao mudo estridente receio
Da multidão calada,atônita, sangrada
E ai do infeliz que ver, e assim disser:
-Pobre coitada.


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